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Laurinda Peixoto 

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Há 43 anos que Laurinda Peixoto chama ao Mercado de Benfica a sua segunda casa. Com “a idade de uma jovem”, 75 anos, vende na banca frutícolas e hortícolas. Antes de ter a ocupação que tem atualmente, a D. Laurinda era vendedora ambulante, com o seu marido, que acabou por ficar doente, ficando, por isso, impossibilitado de trabalhar. Assim, teve de se “mandar para a frente” e fazer os possíveis para sustentar a sua família e, principalmente, os seus quatro filhos pequenos. Foi quando uma amiga lhe sugeriu o Mercado de Benfica: “houve uma colega nessa época que me disse «ó Laurinda, por que é que não vens para aqui? Arranjas aqui uma banquinha. Tu vais ver que para comer tens sempre»". E assim foi; decidiu arriscar e, até agora, mantém-se atrás da pequena grande banca de frutícolas e hortícolas do setor B.

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A sua banca é bastante recheada e variada, com todas as cores e cheiros.

Tem frutas de época e frutas exóticas, todos os tipos de vegetais e hortaliças, e até favas descascadas, porque, como conta, “as pessoas mais facilmente levam as favas já assim porque têm preguiça de as descascar”.  No meio de todos os produtos expostos, não costuma haver uma grande discrepância entre o mais e o menos vendido, sendo que, “graças a Deus”, se vende um bocadinho de tudo. Quem os compra são, regra geral, os “clientes do costume”, fregueses muito regulares.

O ambiente entre todos os elementos do setor da D. Laurinda é contagiante: os comerciantes estão constantemente a interagir uns com os outros, seja quando abandonam por momentos a sua própria banca para ir pôr a conversa em dia com o vizinho, seja quando têm conversas cruzadas de banca para banca.

 

“O nosso setor é um espectáculo! Somos uma maravilha”

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Ao longo da sua vida como comerciante, assumiu posição como Delegada na Associação dos Mercados e Delegada dos Delegados dos Mercados de Lisboa. Lembra, com muito carinho e alegria, a história que recorda como uma das mais engraçadas que já vivenciou em todos estes anos: “houve um concurso feito pela Câmara de Lisboa e pela Associação dos Comerciantes, em que quem tinha o melhor produto ganhava. Eu ganhei o primeiro prémio e fui a Paris durante quinze dias”. Entretanto, chegou a ser convidada de um programa da SIC, pelo próprio João Baião, seu cliente.

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Qual é, então, o segredo para o sucesso do Mercado de Lisboa? A D. Laurinda acredita que a sua localização é o principal factor, afirmando ainda que “Benfica é Benfica; é como o clube”. Apesar de terem sofrido com a abertura dos supermercados na zona, isso já pertence ao passado, porque “o cliente já percebeu que o produto do Mercado de Benfica é o melhor que há!”. Mesmo assim, há, ainda, muitos problemas a resolver. Tal como todos, ou quase todos, os comerciantes do Mercado, a D. Laurinda queixa-se da falta de estacionamento – “nós temos clientes; não temos é parque de estacionamento para os nossos clientes”. Para além disto, o aumento da renda que paga pela sua banca e a falta de poder de compra dos clientes são o que também prejudica o negócio.

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Como tal, não perspetiva um futuro muito risonho: “A gente está a lutar para que os mercados não desapareçam, mas há tendência para isso. Faço um apelo a todos os clientes, para que procurem o Mercado de Benfica, porque há cá produto bom, e a todos os comerciantes, para que tenham produto fresco e bom. Dizem que este mercado é o melhor de Lisboa – até agora tem sido, daqui para a frente veremos”. Mas no meio de todas estas questões, há ainda tempo para sonhar e ter esperança na concretização do seu maior sonho: “vender caracóis cozidos!”.

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Cristina Marques

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“Chamo-me Cristina Marques, tenho 45 anos e sou comerciante de pão e bolos”. É desta forma tão directa que se apresenta. Há 20 anos no mercado de Benfica, sempre trabalhou no mesmo ramo. O que começou por ser um pequeno trabalho, como passatempo, tornou-se a vida da Cristina. Aliciou-se com os “troquinhos que ia recebendo” a ajudar os pais na banca, deixando-se ficar e tornando o negócio seu. Acabou por não ir para a faculdade, terminando somente o ensino secundário.

          

Tem os seus clientes habituais, sim. Mas estes são mais pequenos, mais irrequietos e mais exigentes: “as crianças, principalmente, a nível de bolos e doces”. Amiga da filha da D. Laurinda – também ela comerciante no mercado –, a Cristina não faz parte do sector B, mas muitas vezes não resiste a visitar aquela banca. Para ela, o ambiente é “familiar”. A relação entre os comerciantes e os clientes é mais próxima e mais pessoas, sendo que não se limitam a trocar as palavras do costume, “quanto é e obrigada”, mas acabam por se criar laços, após a tão frequente convivência. Então e o ambiente entre os comerciantes? “Existem algumas concorrências, como em todo o lado, sem dúvida”. Mas não é isso que impede a Cristina de fazer bons amigos, o segredo é “saber escolher”.

           

Assim como, certamente, todos aqueles que trabalham no Mercado de Benfica, este é especial para a Cristina. Para além de ser a sua casa durante seis dias da semana, é um espaço que “não tem nada a ver com os outros mercados. Tem muito mais população e mais oferta, sem dúvida”. Mesmo assim, nem tudo está perfeito. O problema parece ser mais ou menos transversal a todos: “falta um grande estacionamento! Para os clientes e para os comerciantes. Falta uma gerência que seja por nós e que puxe por nós”.

           

E em relação a perspectivas para o futuro? A Cristina não o vê “com bons olhos”, o que a deixa triste. Tem reparado que, infelizmente, o cenário tem vindo a piorar de ano para ano, e que tudo fica ainda mais complicado quando “ninguém apoia os comerciantes”.

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Lucília Antunes

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58 anos de idade e 26 de mercado. Lucília Antunes,

bastante recatada e concentrada no seu trabalho,

relembra a história que a faz recordar os anos que já

passou no Mercado de Benfica com maior alegria:

 

 

“foi aqui que o meu filho, com 24 anos, foi criado.

Eu fiz cá a gravidez e ele veio sempre comigo para

aqui ajudar-me. Agora, trabalha na fábrica do

açúcar, mas continua a vir trabalhar para o

mercado ao sábado”.

           

 

 

Foi cozinheira num restaurante, até que a vida mudou de rumo e acabou por ir trabalhar para o Mercado de Benfica. A sua banca é de aves, e afirma que ali “vende-se tudo, é igual”, a clientes que são, na sua maioria, habituais.

           

O que torna o mercado tão especial, na opinião da D. Lucília, é a qualidade dos produtos, e o facto de se ter mais por onde se escolher. Também a localização, mesmo no centro de Lisboa, ajuda a manter os clientes fidelizados. Todavia, estes clientes têm vindo a ser cada vez menos – “falta um estacionamento; perderam-se muitos clientes à custa disso”.

           

Para o futuro, deseja simplesmente estar cá para ver o Mercado de Benfica recuperado e revigorado, o que, acredita, não vai acontecer se a situação continuar igual: é preciso baixar as rendas, “ou as pessoas não aguentam”.

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Soliana Semedo

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Alegre, bem-disposta e extremamente simpática. Escondida por detrás do peixe – de imensa variedade de peixe. Com um sorriso no rosto e um sotaque que evidencia logo a sua origem – “chamo-me Soliana Semedo, sou brasileira, tenho 39 anos e vendo peixe há nove, com o meu marido”. O marido já trabalha no Mercado de Benfica há 15 anos, mas a Soliana só se juntou a ele há oito, sendo que, até lá, trabalhava na restauração.

           

E qual será o produto que mais vende na sua banca? “É aquilo que o português gosta: carapau e petinga”. Os seus clientes são habituais, e o seu peixe sempre fresco. A relação com quem por lá passa é boa; entre colegas, “um dia está bem, outro dia está mal. Mas o que interessa são os clientes”.

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas esta não é a primeira vez que a Soliana fala sobre o seu trabalho como peixeira e da sua banca no mercado. “Uma vez, uma pessoa da Finlândia veio gravar-nos para pôr no Youtube”. Como um dos melhores momentos destes nove oito anos, elege este; a sua família foi escolhida por este estrangeiro para participar num estudo e ser gravada enquanto trabalhava – “veio cá e perguntou se queríamos participar”. E assim foi, participaram e guardam na memória o momento.

           

O Mercado de Benfica “tem tudo”. Então, isto quer dizer que não falta nada? “Falta, falta estacionamento, mesmo que seja a pagar. E falta mais, e melhor, acesso para as pessoas que têm dificuldade em subir e descer escadas. Existe uma rampa, mas deveriam existir mais, ao longo do mercado”.

           

Ainda assim, a Soliana mantém-se bastante positiva acerca do futuro do Mercado de Benfica. Está a contar com as melhorias que se preveem, e espera poder vê-las e usufruir delas o mais possível:

 

“o mercado já tem quase 50 anos, e eu quero mais 50, para poder criar os meus filhos”

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